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Opinião: As Primeiras Quinze Vidas de Harry August, de Claire North


As Primeiras Quinze Vidas de Harry August
de Claire North

Edição/reimpressão: 2016
Páginas: 432
Editor: Saída de Emergência




Resumo: Harry August não é um homem normal. Porque os homens normais, quando a morte chega, não regressam novamente ao dia em que nasceram, para voltarem a viver a mesma vida mas mantendo todo o conhecimento das vidas anteriores. Não interessa que feitos alcança, decisões toma ou erros comete, Harry já sabe que quando morrer irá tudo voltar ao início. Mas se este acumular de experiências e conhecimento podem fazer dele um quase semideus, algo continua a atormentar Harry: qual a origem do seu dom e será que há mais pessoas como ele?
A resposta para ambas as perguntas parece chegar aquando da sua décima primeira morte, com a visita de uma menina que lhe traz uma mensagem: o fim do mundo aproxima-se.
Esta é a história do que Harry faz a seguir, do que fez anteriormente, e ainda de como tenta salvar um passado que não consegue mudar e um futuro que não pode deixar que aconteça.
Rating: 3,5/5

Comentário: O tempo é e tem sido desde sempre um dos grandes mistérios da vida. Procuramos conhecer o passado e sonhar com o futuro, aprender com os que já viveram e conjunturar sobre as inovações que nos trarão os homens e mulheres de amanhã. A literatura nunca se esqueceu desta caixa de pandora, e a imortalização de "A Máquina do Tempo" de H. G. Wells é um exemplo disso, marcando toda uma corrente literária que tem vindo a explorar a temática sob as mais diversas formas. Claire North seguiu a tendência e trouxe-nos uma abordagem diferenciada à ideia da viagem no tempo. Harry August não se movimenta no espaço temporal segundo a sua vontade, mas num ritmo cíclico marcado por uma mesma origem e vivência, se assim por si determinada (pelo menos esta última, uma vez que a sua âncora é precisamente o acto do seu nascimento).
A sinopse já me tinha deixado curiosa por diversas vezes, pelo que fiquei entusiasmada com a publicação deste livro em Portugal. E não estava à espera de gostar tanto, mas acabei agradavelmente surpreendida.
O tempo está no centro da acção deste livro, mas o enredo vai muito além disso e centra-se principalmente na vida (ou vidas) de Harry August. É portanto um livro para apreciadores e contadores de histórias, centrando-se no percurso existencial desta personagem, que se revela bastante rica, complexa, humana e com uma sensibilidade especial, limada ao longo de todas as vidas derivadas da sua experiência.
Nascimento na década de 1920 e tendo uma esperança média de vida que invariavelmente garante a sua morte por volta de 1990, a personagem acaba por se inserir num contexto histórico bastante interessante, juntando elementos de ficção histórica com ficção científica, de uma forma bastante equilibrada e envolvente, que transforma um movimento cíclico num percurso mais interessante para o leitor. 
Tratando-se de uma narrativa assente numa perpectiva singular, a estrutura do livro acaba por facilitar uma maior dinâmica, ao não nos ser apresentada uma versão linear da sua existência, intercalando acontecimentos e "vidas" consoante os assuntos de relevo a apontar, que se fundamentam com uma estrutura narrativa de base, que acompanha a acção principal, que acabará por ganhar uma maior força a partir do meio do livro.
Gostei especialmente da confluência de pequenas observações e elementos para a construção do puzzle final, para além dos registos filosóficos e de reflexão sobre as viagens do tempo e as suas implicações para a estrutura temporal. Por vezes, e ainda que seja um livro muito diferente dos que irei mencionar, senti alguns elementos que me relembraram de "O Mundo de Sofia" e "A Mulher do Viajante do Tempo". Acho que tem um pouco do espírito de ambos se atentarmos às análises frequentes sobre a representação e consequências destas viagens num sentido mais vasto (dando azo a pequenos momentos quase que filosóficos), mas também pela influência que várias personagens catalisadoras acabam por ter na construção da trama final e na "colagem" deste personagem de forma a que a sua identidade não se perca. A abordagem desta personagem ao passar do tempo é também bastante interessante, especialmente porque, se o leitor assim quiser e estiver com alguma atenção, conseguirá detectar pequenas reflexões que se adaptam ao nosso presente, acelerado, repentino e corrido, que por vezes não nos deixa com muito espaço para aproveitar experiências, consolidá-las e torná-las parte de nós.
Não obstante, em "As Primeiras Quinze Vidas de Harry August" contamos também com uma trama de mistério e acção, um exercício que pede para ser desvendado e que nos leva para um plano para além do conto do passado, puxando o leitor para o centro da movimentação e criando desejo de atingir o desfecho.
Acabou por ser uma abordagem diferente do que esperava, mas bastante completa, pormenorizada, e com poder de envolver o leitor na história de um homem que foi quinze diferentes e um só ao longo de 400 páginas.
                                          

Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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