Arquivo

Tags

Popular Posts

Parcerias

Blogroll

Avançar para o conteúdo principal

O tal

Uma das coisas que aprecio bastante na maneira de ser de Shannon Hale, autora de O Livro dos Mil Dias e Academia de Princesas, é o facto dela se interessar e pensar em coisas que podem por vezes passar um pouco despercebidas.
No seu último artigo a autora debate a falta de personagens do mesmo sexo da personagem que é o "interesse romântico" da personagem principal. Para o fazer, a autora recorda uma história da sua juventude onde entrou numa peça de teatro em que fez de um dos ladrões da floresta de Sherwood e questionou-se porque não poderia ser uma ladra. Os colegas rapazes rapidamente a elucidaram que isso não poderia ser, porque assim não haveria motivos para o Robin Hood se apaixonar pela Lady Marion. A autora achou isto estranho, o que teria existir uma ladra no grupo a ver com o facto do Robin Hood gostar da Lady Marion ou não? (Aproveito para relembrar que a BBC pensou o mesmo quando fez a sua versão do Robin Hood e introduziu a Djac na história.)
E de ligação em ligação a autora chega a uma conclusão: a não ser que haja um triângulo amoroso envolvido na equação, a personagem principal nunca conhece ninguém que consiga rivalizar com o personagem que é o seu interesse romântico. E isto, diz a autora, tanto serve para YA que em que as raparigas são as principais, onde normalmente há dois rapazes igualmente perfeitos que a disputam (mas onde nós normalmente até temos noção de com quem ela vai ficar), como para YA onde os rapazes são os principais e existe apenas uma rapariga que lhes rouba o coração.
A pergunta que fica no ar é: será que esta rapariga/rapaz perfeita/o não tem amigos? Amigos que não sejam exageradamente cómicos ou feios? Será que não tem amigos atractivos como eles e com capacidades interessantes? Qual seria o perigo? Confundiriam os escritores os leitores? Seria mais difícil explicar o porquê da atracção entre os dois personagens?
Creio que a resposta é sim mas é exactamente isso que torna um livro interessante. Claro que a atracção é fácil de explicar, o amor nem tanto, mas o desafio é mesmo esse e a vida real é confusa e imprevisível. Claro que muita gente se refugia nos livros para encontrar realidades perfeitamente organizadas, a certo nível, onde podemos contar com finais felizes e amores que duram para sempre mas não é também refrescante ler um livro mais desafiante onde até meio tudo é imprevisível?
Ou pelo menos onde a personagem principal tenha mais amigos do sexo do seu interesse romântico com os quais não queira namorar? O papel de interesse amoroso que cabia, e cabe ainda, às mulheres nos filmes de acção está a passar rapidamente para os homens na literatura YA e isso não é bom nem para uns, nem para outros.
Digam-nos o que pensam, Encruzilhados! Gostam de ter os casais definidos (a heroína parece só conhecer um rapaz e ele é tudo para ela, ou o contrário) ou preferem livros onde a situação pode ser ligeiramente mais nebulosa (isto é existe mais que uma opção para a nossa personagem principal)? Atenção que isso não significa que ela fique duvidosa sobre quem gosta, apenas significa que existem mais homens/mulheres no mundo e não só o/a tal!


Ki
(Catarina)
Sobre a autora:

Bibliófila assumida e escritora de domingo. Gosta de livros e tudo o que esteja relacionado com eles, tem a mania que tem opiniões sobre coisas e gosta de as expor no seu blog conjunto Encruzilhadas Literárias, tem também uma conta no GoodReads e é das melhores coisas que já lhe aconteceu.

Comentários